segunda-feira, 31 de julho de 2017

Moda com Propósito


Sempre admirei o trabalho do André Carvalhal. Por isso, quando li o seu segundo livro, fiquei admirada em como ele se abriu para refletir sobre o próprio trabalho. No ano passado, tive a oportunidade de assistir a uma palestra dele no Paraty Eco Festival. Foi lá que ouvi pela primeira vez sobre a Malha e sobre o novo rumo profissional que ele estava tomando na moda.

Em Moda com Propósito, André revela um despertar que envolve o mundo da moda e a ele mesmo. Tendo trabalhado por muitos anos em uma das lojas mais famosas do Brasil, ele hoje é sócio e co-fundador da MALHA, um espaço que fomenta marcas baseadas na sustentabilidade, slow-fashion e upciclyng.

No livro, entendemos melhor sobre o período de transição que a moda está vivendo e suas incertezas diante da incapacidade de prever o futuro. Entendemos como a crise econômica e a expansão de consciência estão moldando os padrões de consumo das pessoas e a forma como se relacionam com as marcas. 

É esperançoso ver que André, como representante do segmento de moda e mais, grande influenciador desse meio, se engaja totalmente em um manifesto de transformação da moda, de sua lógica produtiva. Como ele diz em certo trecho, será preciso "rever os conceitos de todos os processos...".


É acalentador saber que pessoas da moda estão se comprometendo com tanta seriedade e veracidade com uma mudança estrutural em seu meio. Que entendem, expõem e compartilham os problemas sociais, éticos e econômicos que existem na moda e defendem com coragem novos modelos.

André ressalta que há um momento de virada, uma nova era, já acontecendo. Por espontâneo querer ou por pressão, as marcas estão mudando. Velhos modelos já não se sustentam mais. As pessoas estão mudando e estão fazendo as marcas mudarem com elas.

Muito já está sendo feito, muito ainda há de se descobrir e muito ainda há que se fazer. A indústria da moda é uma das mais poluidoras do mundo e uma das que mais emprega. Que esses empregos possam respeitar os trabalhadores e que de poluidora, seja propagadora de novos exemplos, de um trabalho justo, criativo, autoral, de moda.

O consumismo está dando lugar para a consciência. As pessoas passam a se preocupar em saber quem fez suas roupas, em quais condições, com quais materiais. Entendem e valorizam uma produção mais demorada e mais humana. Prefrem comprar menos e melhor, e não necessariamente o mais barato. Junto com isso, entendem melhor sobre elas mesmas, sobre seu estilo, sem imposições sociais ou sem querer apenas agradar e atender a padrões.

O livro é uma provocação a pararmos para pensar, nos questinarmos sobre propósitos e valores. Ele incita a vontade de procurar respostas, o que já é tão importante quanto achá-las. Nos motiva a pensarmos nos outros e em nós mesmos, e a levar uma mudança de humanização para a moda e para a vida.